A Geração da Superficialidade: Todo mundo comenta, ninguém escuta

Era um domingo à tarde quando minha filha de 7 anos me pediu ajuda para estudar. Assunto da vez: sistema solar. Ao invés de simplesmente dar a resposta, perguntei: “O que você acha que acontece com um planeta mais perto do sol?” Ela pensou, chutou errado, riu, depois acertou. No fim, descobriu mais do que a resposta: entendeu a lógica por trás.

Essa cena, simples, cotidiana, me fez refletir. Hoje, usamos tecnologia para tudo — inclusive para educar nossos filhos. Mas será que estamos usando do jeito certo?

Recentemente li uma matéria no InfoMoney intitulada “Todo mundo virou comentarista — e ninguém mais ouve ninguém”. O texto escancara o que vivemos: uma sociedade que opina sobre tudo, com base em quase nada. Nunca tivemos tanto acesso à informação, e ao mesmo tempo, nunca fomos tão rasos.

No meu artigo anterior, “Política e Inteligência Artificial: o verdadeiro debate”, abordei o risco de transformar a IA em bode expiatório da nossa própria falta de profundidade. Agora, a discussão avança: vivemos na era do ruído, da pressa, do “li o título e já tenho opinião”. É a geração da superficialidade.

O dado que preocupa

Segundo a Microsoft, a média de atenção humana caiu para 8 segundos — um segundo a menos que a de um peixinho dourado. Um estudo da Universidade de Ottawa revelou que 65% das pessoas compartilham links nas redes sociais sem sequer clicar neles. O impacto? Formamos opiniões com base em manchetes, memes e reels de 15 segundos.

Estamos transformando sabedoria em slogans, diálogo em disputa, conhecimento em curtidas.

Os Jardins Suspensos e os tutoriais do YouTube

Parece contraditório que, com tanta informação ao alcance dos dedos, tenhamos perdido a capacidade de construir algo duradouro. No passado analógico, erguemos os Jardins Suspensos da Babilônia sem Google Maps, ChatGPT ou tutorial no YouTube. Hoje, temos acesso a tudo, mas nos falta tempo, foco — e profundidade.

Estamos vivendo ou apenas performando?

A superficialidade virou modo de vida. Respostas rápidas, opiniões prontas, indignações programadas. E no meio desse turbilhão, esquecemos de fazer a pergunta mais importante: o que estamos fazendo com as nossas vidas?

Estamos ensinando nossos filhos a pensar ou apenas a reproduzir? Estamos realmente nos informando ou apenas colecionando certezas que confirmam o que já pensamos? Estamos vivendo de verdade ou apenas alimentando o algoritmo?

A tecnologia é uma ferramenta incrível — mas como toda ferramenta, seu valor depende da forma como é usada. Que saibamos usá-la não para parecer mais inteligentes, mas para sermos mais humanos. Que, ao invés de apenas comentar, voltemos a escutar. E que, talvez, encontremos no silêncio e na dúvida o verdadeiro caminho para a sabedoria.

Foto de Christian Jauch

Christian Jauch

Christian Jauch é publicitário com mais de 20 anos de experiência nos mercados corporativo e político, especializado em branding, design, inovação, tecnologia, marketing político e comunicação governamental.

No setor institucional, atendeu marcas como Peugeot Brasil, MTur e Convention Bureau, além de empresas de logística e terminais portuários. Já na política, atua como estrategista e coordenador de campanhas eleitorais em todas as esferas – municipal, estadual e federal.

Há 12 anos, desenvolve campanhas para eleições da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em sua região.

Co-fundador da Alcateia Política.

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